Musica

sábado, 4 de maio de 2013

Conversando com Thalita Menezes




A INFLUÊNCIA DA DANÇA CONTEMPORÂNEA NA DANÇA DO VENTRE E TRIBAL FUSION: Minha experiência

Os estudos de Dança Contemporânea juntamente com minha prática de Dança do Ventre e Tribal Fusion incitou-me numa contextualização da minha realidade artística e profissional.
Muitas pessoas ainda acreditam que são capazes de reproduzir fielmente a dança de outros povos, originada a milhares de anos atrás de forma idêntica, e que qualquer bailarina de outra cultura se atrever a algum tipo de inovação merece ir à forca.
Assim vejo acontecer comigo e outras bailarinas ao meu redor. Desvalorização da nossa dança por não se enquadrar esteticamente a sua estrutura original.
Quando escolhemos um estilo de dança para aprender, torna-se claro a importância de estudar seu passado para entender o que fundamentou sua prática nos dias atuais. Portanto, poucos refletem sobre o futuro, ou seja, as tendências. E o resultado é sempre o mesmo: o “pseudosusto”!
Abaixo segue mais que um desabafo, mais que um esclarecimento, mais que um pedido de reconhecimento. Quero compartilhar conselhos e experiências de grandes mestres que mudaram a minha vida. (Obrigada Nanda Najla, Mira Betz, Priscila Patta, Renata Violanti, Lulu 

Brasil e Arnaldo Alvarenga.)













                                                                                                                                                                      “ BELLYDANCERS E TRIBALDANCERS” QUE TANTO ME IDENTIFICO, QUE TAL DANÇAR A VIDA?

Diante de alguns estudos sobre a história da dança e suas manifestações ao longo dos anos, passei a enxergar possibilidades de, finalmente, explicar a minha dança.
Desde criança fui apaixonada pela dança. Eu era apaixonada pelo movimento.
Não era muito de falar, questionar, discutir. O movimentar parecia ser minha principal forma de expressão.
Por todos os estilos que passei, a Dança do Ventre foi a única, aos 14 anos que me despertou emoções diferentes. A partir daí percebi que essa dança tão bonita me completava. Mas porque me completava?
O que me ligava a uma dança nascida no outro lado do mundo a partir de rituais sagrados de fertilidade, além de ser uma dança originalmente feita por mulheres?
Os fatores que contribuíram para o surgimento da Dança do Ventre no Egito, Marrocos, Oriente Médio, Líbano, jamais serão comparados aos fatores que fizeram a Dança do Ventre ser dançada no Brasil, quiçá em minha vida há 10 anos.
Naturalmente, a medida que a professora me ensinava um novo “passo” via ele acontecer de forma diferente em meu corpo, com isso buscava a melhor estética para minha dança. No fundo, no fundo, era tudo a mesma coisa, principalmente para os leigos. O que mudou mesmo foi na hora de unir e formar o todo.


O meu corpo, nem um pouco preguiçoso, mostrava um dança enérgica, forte, exata, cheia de pulsos e vibrações. Eu gostava de sentir proprietária dele. Era desafiador e me fazia sentir mais capaz. Porém, aprendi que não poderia sair fazendo tudo que me desse vontade pois seria um desrespeito à Dança do Ventre. Quem era eu para resignificar uma dança milenar que nem do meu país era?
Continuei caminhando em cima das “regras”, mas sem esquecer o que meu corpo era ou não capaz de fazer, até que conheci o Tribal Fusion, um estilo de dança originado nos EUA na década de 90 ao qual utilizava na Dança do Ventre influências de outros estilos de dança.
Bem ou mal, o ser humano tem mania de querer respostas para tudo. Pois bem, fui atrás para saber quais eram os estilos que compunham a dança do ventre e que originou o Tribal. E a resposta foi... 


Nenhum especificamente.
Como assim? Posso fundir a Dança do Ventre a qualquer estilo de Dança e chamar de Tribal Fusion? 
Basicamente, sim!
As bailarinas que se destacaram no estilo foram as que não se preocuparam em definir sua dança como forma de satisfação ao público. Elas simplesmente incorporaram à sua dança experiências únicas pessoais e corporais para produzir novos modos de percepção e afecção. Uma preocupação maior em tocar o outro com aquilo que somente ela pode transmitir.
Isso para mim foi mágico! Era a resposta (subjetiva) necessária para sair da crise existencial que eu mesma me coloquei ao ouvir muitas pessoas rotulando minha dança.
Nas minhas primeiras performances de Tribal Fusion, por menos conhecimento que eu tinha naquela época ainda me fazia muito enraizada pela técnica de outros profissionais, como Rachel Brice e Sharon Kihara. Depois de alguns cursos com Sharon Kihara e mais de 10 profissionais intitulados na área, fico feliz em não ter nenhum deles compondo minha dança mais que 20%.


A minha dança começava então a ter mais significado, pois era feita por mim e para mim. Isso foi o auge para meu ego. Até que iniciando meus estudos na Faculdade de Dança da UFMG, descobri que meia dúzia de bailarinos no mundo inteiro deu seu grito de liberdade há centenas de anos, enfrentando todos os preconceitos em busca da reafirmação de sua identidade! 
(E muita gente achando que estou moderninha demais... Humpf!)
“A dança contemporânea é uma coleção de sistemas e métodos desenvolvidos da dança moderna e pós-moderna, ela é muito mais que uma técnica específica, mais até que os outros tipos reafirmam a especificidade da arte da dança. 
Para a ciência o pensamento se faz no corpo e o corpo que dança se faz pensamento, ou seja, completam-se, isso se evidencia nesse estilo de dança. Ela não se define em técnicas ou movimentos específicos, pois o bailarino tem autonomia para construir suas próprias particularidades coreográficas. 


A liberdade trazida pela perspectiva não significa que ela ignora as idéias fortes e a inventividade das grandes obras de qualquer forma artística, nem mesmo um domínio técnico. O corpo na dança contemporânea é constituído na maioria das vezes a partir de técnicas somáticas, assim trazem o trabalho da conscientização corporal e do movimento.
Para Jean George Noverre, um grande pioneiro da dança contemporânea, é necessário a transgressão das regras. Ele diz que será preciso transgredi-las e delas se afastar constantemente, opondo-se sempre que deixarem de seguir exatamente os movimentos da alma, que não se limitam necessariamente a um número determinado de gestos, isto é, não perder um determinado ponto, deixar o corpo fluir sem limites de acordo com

os movimentos, não apenas executá-los e sim senti-los.” Francielly Farias- aluna de dança contemporânea da Escola Bolshoi
Num mundo em constante mudança, onde se tem diariamente tantas conquistas e descobertas sobre nós, ficar tratando a dança como apenas uma repetição mecânica de passos bem executados é reduzi-la a algo menor, ou seja, assim como as pessoas mudam durante o tempo, a dança também muda.




A minha Dança do Ventre não pode ser comparada a de Samia Gamal, Tahia Carioca, Carla Sillveira, Saida Helou ou Lulu Brasil. Assim como meu Tribal Fusion não pode ser cópia de nenhum outro bailarino.
Tenho muito respeito para com todas que, sem dúvidas contribuíram e contribuem até hoje para o meu aprendizado, mas acredito que não existe certo e errado. Existe expressar e movimentar. E para os necessitados de uma resposta, eu não danço Dança do Ventre nem Tribal Fusion. Eu danço a minha vida.
O contemporâneo na dança não é determinado por um valor cronológico, mas como arte suspensa em que passado, presente e futuro se atravessam.
O reconhecimento vale muito a pena o medo não.


Portanto, arrisquem-se e adotem a “Dança Contemporânea” (um jeito de pensar a dança) ao estudo de vocês. 
A partir do momento em que se permitirem, poderão usufruir mais de suas habilidades criativas e ir bem mais longe. Valorizem a liberdade, ultrapassem seus limites para cada dia evoluírem junto com a dança.



Dancem a vida de vocês e pronto!


Por Thalita Menezes - Tribal Fusion Bellydance
Data: 22/04/2013

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